[Formulou-se o mito da criação juvenil, uma verdadeira aura que se projeta em torno do fazer adolescente. Criativo é o que é jovem, e vice-versa.
É verdade que em nossa civilização essa atitude se revela desde o início ambígua e cheia de contradições. À juventude é dado o caráter de uma adolescência bastante prolongada, protegida pelo adulto e dele dependente, isentando o jovem de responsabilidades correspondentes ao seu desenvolvimento e à sua posição na sociedade e oferecendo-lhe uma liberdade dentro de uma não maturidade artificial.
Ao mesmo tempo, porém, que se ignoram suas potencialidades e sua real participação, exige-se da juventude através de apelos e pressões que atingem o cerne de sua necessidade de afirmação, uma realização de vida, em termos de experiência e de sucesso de trabalho, humanamente impossível.
Assim inventa-se uma criatividade que se condensa, prioritariamente, no ser jovem, transferindo-se para a faixa da adolescência o clímax da produtividade humana e o significado das concretizações de vida, com o maior descaso pelas potencialidades humanas mais amplas.
Em nosso contexto cultural, a maturidade é negada como um valor.
Com isso riscam-se os níveis de conscientização que o homem pode atingir, as reais dimensões humanas, pois o entusiasmo idealista do jovem é uma coisa, e será outra quando esse idealismo, na maturidade, converter-se em generosidade e amplitude de compreensão.]